Duas pessoas estão sentadas lado a lado em uma mesa de trabalho, sorrindo enquanto interagem com um notebook. Uma delas usa boné e camiseta preta, e a outra veste um moletom branco e óculos. Ao fundo, outras pessoas também estão reunidas em um ambiente de coworking moderno e iluminado.
Fonte: Airam Dato-on (Pexels)

Acessibilidade, transição de carreira e colaboração: aprendizados no percurso do design digital

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Esse texto nasceu depois da conversa com a comunidade Jovens Ux e Ui — uma oportunidade de refletir sobre minha trajetória profissional, desde a migração da área de TI e front-end para o design digital, com forte atuação em acessibilidade.

Da tecnologia ao design: transição e aprendizados

A trajetória profissional de quem atua com design raramente é linear — e a minha não foi diferente. Começou fora do contexto de TI: minha formação inicial era voltada ao ensino das ciências exatas no ensino fundamental, o que, de certa forma, me ajudou, pois o profissional de UX/UI é plural e depende de muitas áreas correlacionadas, já que professores tem comunicação como um dos seus pontos fortes.

No universo da tecnologia, a ponte entre desenvolvimento técnico e design centrado nas pessoas oferece aprendizados valiosos, especialmente quando o foco se volta à acessibilidade e à inclusão como parte da prática cotidiana.

A migração da área técnica para o design não exige apagar competências anteriores, mas reorganizá-las.­ Habilidades como lógica de programação, entendimento de sistemas e visão de viabilidade técnica podem acelerar a prototipação e a comunicação com times de desenvolvimento. Esses conhecimentos, no entanto, passaram a ser reinterpretados sob a lente do design centrado no usuário.

A principal virada de chave foi aprender a priorizar as perguntas certas: entender a real necessidade antes de pensar na solução. Confesso que, até hoje, quando ouço um problema, minha mente corre para fluxos já vivenciados. Mas aprendi a pausar e me perguntar: será que essa é realmente a melhor abordagem para essa pessoa, nesse contexto?

É nesse ponto que muitas pessoas vindas da engenharia e da programação encontram um novo paradigma: projetar não apenas o “como”, mas o “porque” e o “para quem”.

Essa nova forma de pensar foi sendo construída com o tempo, por meio da formação técnica (graduação, especialização, cursos livres), participação em comunidades — de design, de programação, de liderança e de agilidadeleituras sobre comportamento humano e envolvimento direto em projetos que exigem escuta ativa, empatia e visão sistêmica. Tudo isso colaborou profundamente com meu desenvolvimento profissional.

Acessibilidade como prática ética e estratégica

A acessibilidade passou a ocupar um papel central a partir do momento em que entendi que o design, ao ignorar diferentes contextos de uso, exclui pessoas reais. Ignorar o tema da acessibilidade hoje é abrir mão de construir produtos mais justos — e isso impacta diretamente a relevância do profissional.

Minha mudança de postura não veio por um checklist técnico, mas por uma virada ética, após presenciar a dificuldade enfrentada por pessoas idosas na entrega de um projeto em meu primeiro emprego.

Considere todas as pessoas, em suas pluralidades, como usuárias legítimas do produto.

A experiência mostrou que ações simples — como garantir contraste suficiente, rótulos claros e navegação por teclado — podem transformar a experiência de quem antes estava à margem. Isso se traduz em um compromisso constante de incluir mais pessoas nas soluções que criamos.

Tecnologias assistivas como leitores de tela (NVDAVoiceOver), softwares de ampliação e navegação via teclado deveriam fazer parte do repertório básico de qualquer pessoa que trabalha com design digital. Conhecê-las na prática ajuda a compreender limitações e tomar decisões mais conscientes.

Colaboração e liderança no cotidiano do design

A colaboração com times multidisciplinares é uma das competências mais exigidas em ambientes de produto, já que envolve comunicação efetiva. Há diferença entre a pessoa (1) que apenas entrega telas e (2) aquela que colabora ativamente, está na escuta, na mediação entre visões e na capacidade de justificar decisões com base em dados e contexto.

No trabalho com desenvolvedores, clareza, documentação e respeito pelas restrições técnicas são tão importantes quanto empatia.

Quando você, designer que está migrando, compreendem a realidade de quem implementa, aumentam as chances de entregar soluções que, de fato, chegam até o usuário.

Lideranças em design também desempenham papel fundamental nesse cenário. Estimular a consciência sobre acessibilidade envolve criar espaços de aprendizado, acolher dúvidas e incorporar esses princípios aos processosnão apenas aos entregáveis.

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A importância das comunidades e da produção de conteúdo

O podcast Foco Acessível nasceu com o propósito de dar visibilidade ao protagonismo de profissionais que atuam com tecnologia e design, especialmente na promoção da acessibilidade digital.

Ao abordar conquistas, aprendizados e caminhos para iniciar esse debate em ambientes onde ele ainda é invisível, o projeto se tornou também uma ferramenta de aprofundamento técnico e ético. Produzir esse tipo de conteúdo exige estudo constante e tem sido um catalisador importante para o desenvolvimento profissional.

Nesse processo, participar de comunidades foi e tem sido tão valioso quanto produzir. A troca com profissionais de perfis diversos nos faz ampliar nossos repertórios e desafia visões consolidadas. Experiências como a Aceleradora Ágil e a Inclusiva representaram um ponto de virada no amadurecimento técnico e pessoal.

Ao compartilhar conhecimento com outras pessoas, há também um aprendizado genuíno: ensinar é uma forma profunda de consolidar o que se sabe.

Para quem deseja crescer com um olhar mais inclusivo, espaços como grupos de estudo sobre as diretrizes WCAG, fóruns de discussão sobre design acessível e iniciativas colaborativas são caminhos eficazes para acelerar o desenvolvimento, fortalecer redes e construir práticas mais conscientes desde o início.

Se você está migrando, já pensou em usar o design para melhorar algum processo da sua área anterior?

­Primeiros passos no design com propósito

Quem está começando na área pode se sentir pressionado a apresentar um portfólio robusto, mas o diferencial está na narrativa: explicar decisões, documentar processos e refletir sobre aprendizados tem mais peso do que exibir interfaces visualmente atraentes.

Mesmo fora de projetos voltados à acessibilidade, é possível exercitar esse olhar. Simular navegação com leitor de tela, analisar contrastes, testar sem mouse, etc. Tudo isso amplia o entendimento sobre barreiras digitais.

Participar de hackathons, colaborar com ONGs, desenvolver projetos próprios e estudar casos reais são caminhos para adquirir experiência prática.

Errar faz parte do processo e reconhecer os próprios erros é parte do crescimento profissional.

Documentar esses deslizes e refletir sobre os aprendizados é essencial. Nem sempre conseguimos desenvolver tudo o que planejamos, mas uma seção no portfólio com planos futuros mostra visão de manutenção e escala das suas soluções.

Design é uma prática situada. Envolve escolhas que afetam diretamente a vida das pessoas.

Ao colocar a acessibilidade no centro, você, futuro designer, não apenas amplia o alcance de seus produtos, mas fortalece o propósito de um design verdadeiramente ético, colaborativo e humano.

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Referências

Links do texto:

Para se aprofundar ainda mais:

­Livros para se aprofundar:

Iniciativas para quem está buscando a primeira experiência com impacto real:

Comunidades de Design e Produto

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Continuous Discovery Habits: Discover Products that Create Customer Value and Business Value, Teresa Torres

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