Políticas do design, Ruben Pater

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“Todo ato de design é político.”

Essa é a tese central do livro Políticas do Design, de Ruben Pater — uma obra essencial para quem trabalha com comunicação, UX, produto, branding ou qualquer área em que decisões visuais impactam pessoas.

Muito além da estética, o design molda discursos, reforça ou desafia estruturas sociais e participa ativamente da construção cultural. A seguir, resumo os principais pontos do livro com comentários e exemplos práticos para refletirmos sobre o papel do design na sociedade contemporânea.

Design e política: uma relação inevitável

O design nunca é neutro. Toda escolha — seja de forma, cor, fonte ou símbolo — carrega valores ideológicos, históricos e sociais. Essas decisões influenciam como o mundo é percebido e vivido.

  • O design pode servir tanto para reforçar o status quo quanto para questioná-lo.
  • Designers vivem um dilema frequente: seguir seus princípios éticos ou atender às exigências do mercado.
  • Por exemplo, a publicidade frequentemente exige soluções visuais que contrariam os ideais de quem projeta.

impacto da comunicação visual no mundo globalizado

Com a internet, as mensagens visuais se tornaram instantaneamente globais — mas isso também trouxe mal-entendidos culturais.

  • Um mesmo símbolo pode ter significados opostos em diferentes culturas.
  • Designers precisam estar atentos às implicações éticas de seus projetos.
  • Casos reais mostram como logotipos e ícones mal interpretados geraram crises de imagem internacional.

Diversidade cultural e linguística no design

A forma como nos comunicamos visualmente é profundamente moldada pelos sistemas de escrita usados em cada cultura. O livro mergulha em como esses sistemas influenciam o design e como foram (ou não) respeitados historicamente.

Evolução das escritas

  • Das escritas logográficas (como os hieróglifos) aos alfabetos fonéticos, cada sistema traz lógicas visuais distintas.
  • O advento do Unicode nos anos 1990 democratizou a escrita digital, incluindo mais de 120 mil caracteres — de línguas indígenas a sistemas clássicos esquecidos.

Tipografia e estereótipos

  • Algumas fontes viraram símbolos visuais estigmatizados, como “Neuland” para África ou “Mandarin” para o Oriente.
  • Essas escolhas reforçam clichês e representações simplificadas de culturas inteiras.

O design como ferramenta de inclusão ou exclusão

O design já foi (e ainda é) usado como forma de dominação cultural — mas também como forma de resistência e preservação.

  • Durante o colonialismo, alfabetos locais foram substituídos por sistemas impostos, apagando línguas inteiras.
  • Por outro lado, movimentos de resgate cultural, como o uso do alfabeto Tifinagh pelos povos amazigh no Marrocos, mostram o potencial do design para preservar identidades.

O risco da descontextualização

  • Um caso citado no livro envolve a adaptação mal feita de fontes árabes para logotipos latinos, que gerou problemas culturais por falta de entendimento e sensibilidade.

Estética e política andam juntas

A estética nunca é “só estética”. Mesmo decisões formais carregam significados políticos.

  • A letra gótica, por exemplo, foi amplamente usada até ser associada ao regime nazista, tornando-se tabu após a Segunda Guerra Mundial.
  • Tipografias que desconsideram contextos locais podem gerar interpretações erradas ou ofensivas.

Estereótipos visuais e ética no design

O livro também discute como o design pode reduzir culturas a caricaturas visuais — principalmente ao criar fontes e ícones com “estética étnica”.

  • Isso é chamado de etnicização visual: o uso de elementos para reforçar uma visão estereotipada do “outro”.
  • Um exemplo marcante: o filme Avatar, que usou a fonte Papyrus para evocar ancestralidade alienígena, mas acabou ecoando estereótipos visuais do Oriente Médio.

Estética x representatividade

  • O desafio é equilibrar impacto visual com respeito à diversidade cultural.
  • A estética deve servir à comunicação responsável, e não ao reforço de clichês.

Um chamado à prática ética e crítica

O autor propõe uma postura ativa: designers devem assumir responsabilidade pelo impacto das suas escolhas.

  • Isso exige escuta, colaboração e pesquisa.
  • A contribuição de pessoas de diferentes contextos culturais é essencial para evitar erros.
  • O livro convida designers a enviarem exemplos para o site thepoliticsofdesign.com, ajudando a ampliar o debate.

Políticas do Design é um livro urgente. Ele nos lembra que, ao criar uma identidade visual, um app ou um simples banner, estamos comunicando muito mais do que queremos dizer — estamos revelando nosso lugar no mundo, nossas crenças e omissões.

Se você trabalha com design, comunicação ou produto, esta leitura não vai te ensinar a escolher cores melhores — mas vai te fazer questionar por que você as escolheu. E isso é bem mais poderoso.

INFORMAÇÕES DO LIVRO

Políticas do design: Um guia (não tão) global de comunicação visual

Ruben Pater
Editora:
Ubu
Publicação:
02/04/2020
Assunto:
Design Gráfico e Ciências Sociais

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